Temos abordado frequentemente a importância de as empresas criarem políticas para retenção e valorização dos talentos em suas equipes. Retornar a esse tema tem sido inevitável, especialmente considerando os números que indicam uma desaceleração na economia global.
O relatório Combatendo a Crise do Custo de Vida, divulgado no final de 2022 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), comprova essa redução de ritmo, apontando que a situação econômica global “está passando por uma desaceleração ampla e mais acentuada do que o esperado, com inflação mais alta do que a observada em várias décadas”.
Desafios para os Empregadores
No contexto das questões econômicas, as empresas demonstram cautela. Assim, elas começam a reconsiderar suas estratégias de negócios. Isso inclui o desenvolvimento de equipes e a retenção de talentos. Ciente da relevância dessa mudança, abordaremos como cultivar uma cultura de talentos é fundamental. Essa cultura ajuda as organizações a superar períodos de crise e até mesmo volatilidades econômicas.
No início de 2023, empresas de tecnologia e software enfrentaram grandes ondas de demissões, conhecidas como lay-offs. Esse cenário gerou incertezas significativas entre os funcionários desses setores. Além disso, uma pesquisa global recente com 35.000 profissionais revelou preocupações alarmantes. Aproximadamente 52% dos entrevistados estão preocupados com a incerteza econômica e sua segurança no emprego. Mais um terço expressou preocupação em perder o trabalho. Esses dados fazem parte de um estudo da jornalista britânica Josie Cox, intitulado “O Preço da Ansiedade por Dispensa”, desenvolvido pela BBC.
Para os empregadores em busca de novos talentos, esse será um desafio. É improvável que os profissionais de RH consigam oferecer garantias substanciais sobre a permanência dos colaboradores em seus cargos. Por outro lado, os líderes de RH percebem que os funcionários atuais estão vivenciando um “compromisso de continuidade”, no qual permanecem apenas porque sentem que não têm alternativa. Se esse cenário não for controlado, pode resultar facilmente em perda e desengajamento profissional, com os colaboradores realizando o mínimo necessário para sobreviver, mas sem gerar impacto suficiente para impulsionar os negócios.
Impacto das Suspensões de Contratação
Da mesma forma que os candidatos demonstram cautela em relação a mudanças, os empregadores estão se tornando cada vez mais incertos quanto às contratações. Tanto que grandes empregadores, como Disney e Meta, anunciaram publicamente a suspensão de novas contratações, com a indústria de tecnologia em particular pressionando por uma pausa nesse aspecto.
A suspensão das contratações normalmente tem um impacto negativo nos membros da equipe existente, que podem ficar sobrecarregados com responsabilidades adicionais – sem um aumento salarial correspondente. Essa combinação de fatores é uma fórmula certeira para uma crise de satisfação dos funcionários.
Por fim, os cortes orçamentários estão limitando a capacidade do RH de implementar mudanças positivas, lançar iniciativas importantes e aumentar o engajamento dos funcionários. Com a somatória de cortes orçamentários ao aumento do custo de vida, oferecer salários competitivos se torna uma questão complexa para o RH, fazendo com que os funcionários se sintam desvalorizados e, eventualmente, busquem oportunidades em outro lugar.
Idealmente, os profissionais de RH seriam capacitados para aumentar a atratividade da organização de outras maneiras, mas muitas iniciativas de engajamento têm um custo elevado. Obter aprovação para essas iniciativas durante períodos de incerteza econômica pode ser uma batalha, mas as empresas que não conseguirem engajar seus funcionários pagarão o preço com a redução da produtividade.
Mobilidade Interna como Solução
Organizações que enfrentam restrições de recursos e congelamento de contratações devem considerar a mobilidade interna. Em um cenário de mudanças rápidas, fortalecer a capacidade de desenvolvimento é um investimento sólido, auxiliando na retenção e no planejamento de sucessão.
Identificar o potencial latente na força de trabalho existente é uma alavanca importante para a transformação da Cultura de Talentos. Felizmente, existem ferramentas e estratégias que podem ajudar as empresas a progredir nesse sentido, mesmo diante da tempestade econômica. Seja por meio da mobilização de talentos existentes ou da ampliação dos processos de integração para aproveitar ao máximo as novas contratações, os líderes de RH e os gerentes de contratação podem continuar desenvolvendo sua Cultura de Talentos e colhendo os benefícios resultantes.
Para as empresas que conseguirem incorporar uma Cultura de Talentos progressiva durante momentos difíceis, o valor gerado será duradouro. Afinal, elas estão preparando as equipes para ter sucesso não apenas nos próximos meses, mas daqui para o futuro.
Marcelo Souza – CEO do Grupo Soulan e Country Manager da Thomas International Brasil.
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