Em 2024, o Brasil atingiu um marco preocupante: 472 mil afastamentos do trabalho por questões relacionadas a saúde mental, o maior número da última década, de acordo com o Ministério da Previdência Social. O aumento de 68% em relação ao ano anterior acende um alerta para empresas e autoridades, evidenciando a urgência de iniciativas eficazes para promover o bem-estar psíquico no ambiente corporativo.

Nesse contexto, o Ministério do Trabalho e Emprego anunciou, em agosto, a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), incorporando oficialmente os riscos psicossociais à gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). A medida, prevista para entrar em vigor em 26 de maio deste ano, poderá ser adiada após pressões de entidades patronais – um sinal preocupante diante da gravidade do cenário.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que transtornos como ansiedade e depressão sejam responsáveis pela perda de 12 bilhões de dias de trabalho ao ano em escala global, com impacto econômico superior a 1 trilhão de dólares. Portanto, a inclusão dos riscos psicossociais nas normas regulamentadoras representa um avanço essencial para lidar com os desafios contemporâneos da saúde mental nas organizações.

A adequação à nova NR-1 exige mais do que cumprimento de prazos. Demanda uma transformação profunda na forma como as empresas identificam e tratam os fatores que afetam a saúde emocional dos colaboradores. Isso inclui o mapeamento de situações como assédio, sobrecarga de trabalho, longas jornadas, insegurança no ambiente de trabalho, conflitos interpessoais e ambientes tóxicos. Esses fatores impactam diretamente o bem-estar psicológico, a produtividade e a permanência dos profissionais nas organizações.

Para a adequação à NR-1 será necessária uma abordagem eficaz e a articulação entre diferentes áreas e profissionais. A gestão dos riscos psicossociais deve envolver lideranças, RH, psicólogos, médicos do trabalho e engenheiros de segurança. Ferramentas como pesquisas de clima, grupos focais e entrevistas diagnósticas são fundamentais para compreender a realidade das equipes e agir preventivamente.

Nesse processo, os líderes de áreas têm papel central. Próximos das equipes, eles são capazes de perceber sinais de estresse crônico, queda de produtividade ou conflitos recorrentes. Mais do que isso, a liderança deve ser exemplo, promovendo uma cultura de confiança, redistribuindo demandas com equilíbrio e substituindo comportamentos autoritários por atitudes de apoio e acolhimento.

Para que as exigências da NR-1 sejam efetivadas com êxito nas organizações, o setor de RH assume posição estratégica e de grande responsabilidade na “tradução” das diretrizes da empresa para a criação de políticas concretas de saúde mental.

Entre as ferramentas que vão facilitar a adesão às novas exigências estão a criação de canais de escuta ativa, acompanhamento de indicadores de absenteísmo e turnover e sensibilização dos gestores para a importância da prevenção. Também cabe ao RH mapear áreas críticas, identificar grupos vulneráveis e implementar ações corretivas que tenham impacto real no cotidiano dos colaboradores.

A formalização da avaliação dos riscos psicossociais promove benefícios claros. Para os colaboradores, representa o reconhecimento de suas necessidades emocionais e a construção de um ambiente mais seguro. Para as empresas, significa a redução de afastamentos, maior engajamento, aumento da produtividade e menor rotatividade.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), equipes que atuam em ambientes psicologicamente seguros podem apresentar ganhos de produtividade de até 12%. Além disso, empresas que investem em bem-estar são vistas como inovadoras, responsáveis e alinhadas às práticas ESG, reforçando sua reputação e fortalecendo sua capacidade de atrair e reter talentos.

A nova NR-1 simboliza uma mudança de mentalidade. É um passo fundamental que as empresas dão no reconhecimento de que a saúde mental do colaborador é tão importante quanto a física. Mais do que uma obrigação normativa, a correta adaptação às novas regras é uma oportunidade para construir ambientes mais humanos, resilientes e produtivos. As empresas que liderarem esse movimento estarão mais preparadas para os desafios do presente – e, sobretudo, do futuro.

*Nadjane Oliveira – Psicóloga e gerente de Atração e Seleção do Grupo Soulan

 

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