Neste mês em que celebramos a Consciência Negra em todo o Brasil, é essencial refletir sobre as práticas empresariais voltadas à inclusão e valorização racial. Embora avanços tenham ocorrido, os desafios relacionados à diversidade no ambiente corporativo permanecem significativos, conforme destaca a pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gênero das 1.100 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas 2023-2024”, publicada recentemente pelo Instituto Ethos.
A ausência de metas reais para inclusão racial
Os dados expõem uma realidade alarmante: apenas 21,1% das empresas estabeleceram metas de inclusão para pessoas negras em cargos de liderança, e somente 7,4% adotam ações específicas para mulheres negras líderes. Esse cenário evidencia um afunilamento hierárquico em que a diversidade racial praticamente desaparece nos níveis mais altos de comando. Além disso, 45,3% das empresas ainda não possuem metas ou iniciativas para promover a igualdade de oportunidades nos cargos C-Level, agravando a exclusão de profissionais negros (pretos e pardos) de posições estratégicas.
O papel do RH na construção da diversidade
Apesar do aumento nos debates sobre os benefícios da inclusão, faltam políticas consistentes e uma cultura organizacional que promova efetivamente a diversidade nos postos de decisão. A ausência de representatividade, os vieses inconscientes e a insuficiência de políticas estruturadas continuam a limitar transformações mais profundas.
Nesse contexto, o RH desempenha um papel crucial ao liderar mudanças que fomentem uma cultura inclusiva e inovadora dentro das empresas.
O primeiro passo é assegurar representatividade em todos os níveis hierárquicos, algo muitas vezes prejudicado por processos seletivos que ignoram a diversidade. Para superar esses desafios, é fundamental que o RH reavalie seus procedimentos, garantindo oportunidades reais para profissionais de diferentes origens raciais. Treinamentos sobre vieses inconscientes e espaços de diálogo sobre inclusão são ferramentas importantes para conscientizar colaboradores e líderes, promovendo uma mudança cultural genuína.
Diversidade racial como vantagem competitiva
Diversidade racial não é apenas uma questão social, mas também econômica. Estudos da McKinsey & Company mostram que empresas com maior diversidade étnica e racial têm 35% mais chances de superar a média de rendimento do setor. Ambientes inclusivos favorecem a sensação de pertencimento e aumentam o engajamento dos colaboradores, resultando em equipes mais diversas e preparadas para oferecer soluções inovadoras e adaptáveis às demandas de um mercado cada vez mais competitivo.
No entanto, para que políticas de inclusão não sejam apenas simbólicas, o RH deve estabelecer metas claras e mensuráveis, com monitoramento contínuo e ajustes periódicos. Processos de promoção e avaliação baseados em critérios transparentes são essenciais para que a inclusão seja percebida como justa e legítima. Além disso, capacitar lideranças para atuar como exemplos e envolver todos os níveis hierárquicos é fundamental para transformar a inclusão racial em prática diária.
Transformando a inclusão racial em prática cotidiana
Criar uma cultura corporativa inclusiva exige também diálogos abertos sobre diversidade racial e o combate ao racismo. Campanhas de conscientização, grupos de afinidade e canais seguros para denúncias são ferramentas indispensáveis para reforçar o compromisso das empresas com a equidade racial, proporcionando um ambiente acolhedor e respeitoso.
Por fim, as estratégias de inclusão devem priorizar ações práticas e consistentes. Grupos de afinidade, por exemplo, são espaços onde colaboradores podem compartilhar experiências e fortalecer políticas de inclusão, ampliando o senso de pertencimento. Empresas que integram a diversidade racial aos seus valores colhem benefícios que vão desde ambientes mais dinâmicos até uma maior adaptabilidade aos mercados globais.
Neste “Novembro Negro”, meu desejo como profissional de RH é que as empresas possam ir além da simples celebração de uma data e assumam um compromisso real com a inclusão racial. Que a diversidade seja não apenas reconhecida, mas incentivada e valorizada todos os dias do ano e, em todos os níveis hierárquicos.
Nadjane Oliveira – Psicóloga e gerente de Atração e Seleção do Grupo Soulan
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