Quando se trata de mercado de trabalho, temos observado o aumento dos debates sobre a falta de qualificação dos candidatos ao mesmo tempo em que verificamos empresas privilegiando profissionais que, além de conhecimento técnico, tragam consigo “soft skills” – também conhecidas como habilidades interpessoais – essenciais para realizar atividades com excelência e alta produtividade.

Por isso, cada vez mais as empresas estão optando por incluir em seus processos seletivos ferramentas capazes de descobrir e antecipar quais seriam essas soft skills. Sabemos que a contratação não é um processo fácil, afinal, da adequação da equipe à experiência, da aptidão à atitude, há muito a considerar sobre cada candidato.

O Desafio da Escassez de Soft Skills

Do ponto de vista da área de Recursos Humanos, muitos fatores dificultam a escolha de profissionais que tenham soft skills, já que as empresas estão quatro vezes mais propensas a ter um “aumento na escassez de habilidades” desde o período pré-pandemia, segundo demonstra a pesquisa da Thomas International, líder global em ferramentas de recrutamento e análises psicométricas. Na pesquisa, foram entrevistados 904 tomadores de decisão do setor de RH em empresas com 250 a 5.000 funcionários em todo o Reino Unido, EUA, Holanda, França, Bélgica, Canadá, Austrália, Malásia, Hong Kong e Nova Zelândia.

Esse quadro é mais extremo em algumas regiões do que em outras. Como exemplo, podemos citar o Reino Unido, onde 54% dos entrevistados acham que a escassez de habilidades aumentou, em comparação com apenas 34% na França.

Hard Skills x Soft Skills: Qual a Prioridade?

Sabemos que os profissionais de RH ainda valorizam muito as hard skills – habilidades e experiência técnicas, específicas da função. Isso ocorre apesar da crescente importância das soft skills, como resolução de problemas, resiliência e comunicação eficaz.

Ainda segundo a pesquisa, quando questionadas sobre o valor atribuído às hard skills em comparação com as soft skills, o resultado foi quase o mesmo. 51% das respostas indicam que as soft skills são mais valorizadas, enquanto 49% preferem as habilidades técnicas específicas.

Em termos de valorização, os números são bem próximos. No entanto, ao analisar a presença dessas habilidades nas empresas, observou-se uma escassez maior de soft skills. 43% dos entrevistados afirmam que a escassez é mais intensa nas soft skills, em comparação com 17% nas hard skills.

A Falta de Soft Skills nas Empresas

As empresas estão significativamente mais propensas a reportar a falta de soft skills, mas isso ocorre porque elas não utilizam os meios certos para identificar a existência dessas habilidades nos funcionários de suas equipes. Podemos dizer que as hard skills são mais fáceis de “medir”, mas poucas empresas têm mecanismos para quantificar habilidades como comunicação ou resiliência.

Com isso, concluímos que é possível que as soft skills mais procuradas estejam mais disponíveis do que as empresas pensam, desde que seja possível encontrar a maneira certa de avaliá-las.

O Impacto na Produtividade

O que vemos atualmente é que as empresas que valorizam as hard skills preenchem suas vagas mais rapidamente, mas demoram mais para aumentar a produtividade. Por outro lado, as empresas que priorizam as soft skills demoram um pouco mais para recrutar. No entanto, levam menos tempo para que os candidatos alcancem a produtividade ideal. Isso indica que, embora as soft skills sejam mais difíceis de encontrar, esses candidatos se atualizam mais rapidamente.

A pressa para preencher as vagas aumenta as chances de uma contratação errada. Há uma sensação de que priorizar a velocidade em vez da produtividade é mais inteligente e econômico, mas isso não é verdade. Esse fator será ainda mais importante em uma crise econômica. Os profissionais de RH enfrentarão pressão para acelerar a produtividade dos funcionários, o que aumentará os custos de contratações equivocadas.

O Papel no Sucesso Empresarial

Com isso, o estudo conclui que as soft skills proporcionam resultados tangíveis e seus benefícios são claros. Como exemplo, citamos a pandemia de covid-19, que exigiu das empresas e dos funcionários um grande nível de adaptabilidade às mudanças. Sem essa soft skill, as empresas não teriam conseguido superar o auge da crise, e está claro que esse componente foi fundamental para que elas continuassem a prosperar diante do caos externo.

Pode parecer que contratar funcionários com base em soft skills é uma tarefa difícil, mas garanto que não, desde que empresas e profissionais de Recursos Humanos tenham maior clareza nas habilidades que procuram e passem a utilizar as ferramentas certas, validadas e confiáveis, disponíveis no mercado durante seus processos seletivos.

Marcelo Souza é CEO do Grupo Soulan e Country Manager da Thomas International Brasil.

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